segunda-feira, 31 de maio de 2010

Na terra do Canotilho

Nota introdutória: Sei que alguns leitores assíduos (depois de tanto tempo e de tantos posts, tenho orgulho  e o prazer de dizer que o "Na terra do Camões" conta com alguns 'assinantes') não são da área jurídica e nunca ouviram falar em Canotilho. Pois bem, pra facilitar bastante as coisas vou usar uma analogia universal: o futebol. J.J. Gomes Canotilho está para o direito constitucional assim como Cristiano Ronaldo  está para o futebol mundial.(podia ter usado outros nomes, mas vai esse por serem ambos lusitanos). Então imaginem que eu sou um jogador do River-PI que teve a oportunidade de conhecer de perto o Cristiano Ronaldo...
O stress foi grande quando o Dr. Canotilho comunicou à turma que exigiria uma segunda rodada de apresentações (via de regra, aqui na Univ. de Coimbra, os professores exigem uma apresentação por semestre). O stress foi maior ainda quando ele avisou subitamente que o prazo de entrega do seu paper seria dia 07 de junho (o detalhe é que ele nos comunicou isso no dia 25 de maio, portanto a menos de 2 semanas de antecedência). 
E lá fomos nós, todos num misto de stress e expectativa, para o sítio do Dr. Canotilho em Pinhel, sua terra natal (200km de Coimbra). Como ele tinha feito uma exigência explícita pelo cumprimento pontual do horário, acordamos bem cedo. As 6 e 45 estávamos saindo de Coimbra, guiados por nosso piloto de fuga, Natália Zampieri. (minha brother paulista). No carro já as conversas davam a prévia de quão perfeito seria aquele dia. "Será que ele vai nos mostrar as fotos de quando era criança? Será que ele vai nos mostrar a biblioteca dele?"  Comédia pura. A  precaução  com o cumprimento do horário foi tão grande que chegamos com 1hora e meia de antecedência ao ponto de encontro, tanto que deu tempo até pra tomar um 'cafézinho' no meio do caminho!
Depois que toda turma se reuniu no ponto de encontro o Dr. Canotilho foi nos buscar para nos levar até seu sitio. E ai começamos aquela que seria a sua última aula para alunos da Universidade de Coimbra, tendo em conta sua aposentadoria - sim, eu participei da última turma de alunos de J.J.Gomes Canotilho. Apesar de nem todas as pessoas terem falado, a aula demorou bastante, cerca de 03 horas. Depois da aula começaram as surpresas: entregamos a ele uma caneta que compramos, a colega Patricia (curitibana) fez o discurso e o Emanuel (Piaui) completou. E o homem ficou visivelmente emocionado. No seu agradecimento disse que o ponto chave para ser bem sucedido na carreira do magistério é respeitar os alunos, porque aquilo que um professor recebe de seus alunos é sempre maior do que aquilo que ele dá a eles. 
Depois do almoço então ele nos levou a adega cooperativa de Pinhel, grande produtora de vinho de Portugal. Lá degustamos vinhos e ganhamos um vinho que leva o seu nome! Demos voltas pelas agradáveis ruelas de Pinhel, guiados pelo Dr. Canotilho, que ia nos contando histórias de sua infância.
Quando todos achavam que tudo já tinha valido a pena e que era hora de ir embora, a maior surpresa do dia. A esposa dele havia organizado um livro intitulado "Admirar os outros", que coletava vários discursos e cartas escritas pelo Dr. Canotilho em homenagem a outras pessoas. Quem quiser comprar esse livro não vai conseguir: é uma edição limitada de 500 exemplares e não está a venda. Mas todos os presentes ganharam um, devidamente autografado.
E foi com a leitura de alguns trechos que se encerrou a inesquecível visita. Aquele foi o dia que eu pensei que a decisão de ter vindo pra cá valeu a pena, ainda que tudo tivesse dado errado (o que felizmente não aconteceu).
Acima do Canotilho personalidade (professor, jurista, escritor, político, etc) descobrimos o Canotilho pessoa: infinitamente cortez, atencioso, apegado à sua terra, à sua família, à sua história. Um homem que  mesmo  com 60 e tantos anos conserva o olhar de menino(como bem observou o Emanuel);  que nos abriu as portas de sua casa, que se despiu de toda a armadura profissional que veste para tratar de igual para igual reles 'Zé-Ninguém' quando comparados a ele.
Obrigado Dr. J.J. Gomes Canotilho, por, com gestos simples e nobres, tornar nosso dia tão especial e inesquecível.

E claro, obrigado Mamae, Papai e Manim: sem vocês eu sequer teria atravessado o oceano!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Lisboa

Como disse no post anterior, fui à Lisboa com o pretexto de assistir o show do Metallica. Como ainda não conhecia a capital portuguesa resolvi esticar minha permanência por dois dias e conferir o que havia de bom na cidade.
Logo que desci do comboio na estação de Oriente, tive a primeira - e boa - impressão de Lisboa: o cheiro de cidade grande. A estação é enorme, com gente passando freneticamente de um lado para o outro.Indo ao local do show - passamos por dentro de um shopping e então chegamos ao Parque das Nações, onde fica situado o Pavilhão Atlântico - já deu pra notar a grande diferença entre Lisboa e Coimbra: gente "normal".  Em Coimbra é muito raro ver uma família caminhando na rua, por exemplo. Depois de 8 meses nas ruas de Coimbra você se habitua a ver estudantes e mais estudantes por todas as partes. Cansa de ver os portugueses vestindo seus trajes à la Harry Potter. Em Lisboa vi gente que praticamente não vejo em Coimbra: operários, executivos, família. Além disso, muita confusão: multidão, buzina, trânsito, barulho ... Eu tava mesmo com saudade disso tudo!
Lisboa é uma cidade mesmo muito bonita, e que condensa ao seu redor praticamente todas as paisagens de Portugal: tem praias,castelos e mosteiros, tem grandes catedrais,  muita história e tradição. Mas me parece que a principal marca e, consequentemente, maior orgulho da cidade - fora os monumentos em homenagem ao Marquês de Pombal, que foi o grande responsável pela restauração de Lisboa após um terremoto que devastou a cidade no séc. XVIII - é o belíssimo rio Tejo
O rio Tejo nasce no centro da Espanha, mas é no litoral lisboeta que ele vem desaguar. O belo Tejo banha praticamente toda a Lisboa - pelo menos toda a parte que conheci. Foi através do Tejo que os portugueses atingiram a América, as Índias e o Mundo. Daí vem todo o encanto e fascínio dos lusitanos para com esse rio. Conhecer o Tejo é inevitavelmente remeter à nosso passado, à nossa história. É imaginar que foi daquele rio que 1500 homens partiram em 10 naus e 3 caravelas,  lideradas por Pedro Álvares Cabral,  e alcançaram acidentalmente (tenho minhas dúvidas) a Ilha de Vera Cruz.  É fascinante olhar o Tejo e não saber qual é sua verdadeira extensão, não saber onde termina o rio e onde começa o mar.

Em Belém,situada à margem direita do Tejo, além de sua famosa Torre, e do delicioso pastel, encontramos o monumento do Padrão dos Descobrimentos. No chão há uma inscrição que me chamou bastante atenção e que descobri depois tratar-se de um poema de Alberto Caeiro, um dos heterônimos do lisboeta Fernando Pessoa, intitulado O Tejo é o mais belo, cujo trecho transcrevo agora:
"Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram."
Tenho que concordar com o Sr, Sr. Pessoa: muito afortunados foram os portugueses por encontrarem a nossa Ilha de Vera Cruz. Pena terem gerido tão mal a fortuna que encontraram.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

I still alive



O ingresso já estava comprado desde Dezembro do ano que passou. Lembro-me que foi o meu presente de Natal. Um Natal frio e triste, completamente diferente dessa primavera - que já posso dizer que é com calor de verão - alegre e florida. O facto é que no dia 18 de maio de 2010 estava este típico piauiense - ou ainda "comedor de bode", ou ainda piaui - no pavilhão Atlântico de Lisboa para assistir ao show do Metallica. Já no comboio de ida, na saída de Coimbra, muita gente com a camiseta do Metallica, na clara indicação de que todos convergiam para o mesmo local. Foi o primeiro engano: vamos correr, porque com essa lotação não vai ser um sufoco pra entrar. Desembarcamos na estação que ficava mesmo ao pé do Pavilhão Atlântico - local do show. Comemos alguma coisa rápido, compramos umas cervejas no supermercado e ficamos bebendo na porta. "Vamo entrar logo senão a gente não pega um lugar bom". E então entramos. Eu, Arthur e Marcelo (goiano que faz Erasmus em Lisboa e que conhecemos na queima das fitas) levamos aproximadamente 6 minutos e 40 segundos pra passar pela fila, pela revista, pelo portão de entrada e nos posicionarmos num local a 10m do palco. Como assim?!? Cadê a confusão pra entrar? Cadê o tumulto? Cadê o empurra-empurra?!? É, coisas da Europa. Quando entramos ainda estava a tocar a banda de abertura, que eu não faço a menor ideia do nome, mas que algum português próximo disse que era da Noruega. O show estava marcado para as 22hrs, e o Metallica subiu no palco as 21:47, no meu relógio. A ideia do palco era genial: circular, com a bateria no centro e os outros 3 integrantes espalhados pelo palco, separados por 120º (completando assim a volta). Quando os 4 homens subiram ao palco o pavilhão foi a loucura! O espetáculo já começava ali com um jogo de luzes fantástico, e eles abriram um show com  That was just your life, uma música do Death Magnetic - último álbum. Então passaram a The end of the line, também do Death Magnetic. A terceira música já foi um grande clássico, Ride the lightning, seguida de Through the never. A 5a música foi o auge do show, a música que eu tava mesmo a aguardar...e que claramente me levou ao primeiro dos 3 choros no show - As luzes se apagam e James fala "This is for my friend Ronnie" ( referindo-se ao recém-falecido ex-vocalista do Black Sabbath, Ronnie Dio): FADE TO BLACK.
A medida que as músicas iam passando eles trocavam de lugar, e a bateria girava. Assim, eu parado no meu lugar, fiquei  a menos de 10m, de frente pro James Hetfield, pouco depois pro Robert Trujillo e depois pro Kirk Hammet. Depois mais duas do death magnetic (Broken, Beat and Scarred e My Apocalipse) e então, Sad but true e mais uma do death magnetic - The unforgiven III. Só até aí o show já estava mais do que pago, mas os malditos emendaram uma sequência que levou toda a gente a loucura. Pra quem conhece Metallica: The four horsemen, One, Master of puppets, Battery, Nothing else matters e Enter Sandman. Em One, a introdução com os sons de guerra e umas chamas que saíam do meio do palco, foi brutal. E aí veio a segunda rajada de lágrimas quando finalmente consegui falar com meu irmão. Em Master of puppets eu entrei no maior mosh(pneu) da minha vida!!! Uma roda imensa de 'porrada' com direito a todo mundo alucinado e sem camisa. (Aqui vale registrar outra gritante diferença entre Portugal e Brasil: no meio do mosh, por varias vezes alguém caia no chão. Todo mundo parava e ajudava o cara se levantar. Quando tem mosh no Brasil, se o cara cair no chão pode ter certeza que alguém vai lá e pisa na costela do cara.) 

O 'pneu' continuou em battery..e quando o James gritou "Are you alive???Are you alive? How does it feel to be alive??! SHOW ME!!!" eu sinceramente achei que fosse perder meu pescoço. Pronto? Acabou James? Acabou Kirk? Ja chorei 2x, já tirei a camisa, bati cabeça e entrei no pneu. Já posso ir embora? E ai vêm os acordes de Nothing else matters e o terceiro choro da noite, cantando no telefone pro meu brother que tava ali comigo, de coração. Em seguida, Enter Sandman. E então a banda sai do palco e espera pelo grito de bis...Quando retornam James avisa que é aniversário de 10 anos de seu filho. Ele sobe no palco, ganha um happy birthday do público e muita torta na cara dos integrantes. E então segue o show, com Stone Cold Crazy e Phantom Lord. Acendem-se as luzes do pavilhão atlântico e James anuncia a última música. Várias bolas de plástico pretas com a inscrição METALLICA começam a cair do tecto e o pavilhão vai abaixo com SEEK AND DESTROY!
Mais um 'sonho' realizado. Show pra nunca esquecer. Sensação pra nunca esquecer. Queria que uma certa pessoa tivesse do meu lado, já que passei o show lembrando dela. Mas é isso aê, Ian Nicolas, meu irmão. Você tava comigo! Pode ter certeza que você tava comigo, como sempre esteve (mais nesse caso, tava  um bocado mais)


p.s: não consegui de forma alguma alinhar decentemente as fotos com o texto sem tirar esse 'buraco' entre dois parágrafos acima.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Fitas queimadas

Coimbra parou por uma semana. As ruas estavam sempre cheias, nunca tinha visto tanta gente de fora como vi nessa semana de Queima das Fitas. (Coimbra já tem gente do mundo todo, mas nessa época bate recordes). Alguns dias enquanto eu estava indo pras aulas alguns estudantes estavam voltando das farras. Coimbra pára, mas o mestrado não parou completamente (tive aulas normais, mas ainda bem que nenhuma apresentação coincidiu com essa semana).O saldo geral é muito positivo. As pessoas ficam mesmo mais animadas, especialmente os portugueses.
Não é pra menos, a Queima é o   Carnaval deles! Mas sendo bem sincero, quem entende mesmo de Carnaval somos nós! A Queima é muito bacana, o Cortejo é muito diferente e muito interessante, mas em matéria de animação... 5 x 0 pro Brasil.  Falando em cortejo, que é realmente o auge da Queima... A festa começa por volta das 14 horas em frente ao pátio da Biblioteca geral, onde todos os carros ficam alinhados e iniciam o desfile. Dali vão descendo por toda a cidade, distribuindo comida e cerveja. É verdade que grande parte da cerveja é quente, e que eles estragam muuuuuuita cerveja dando 'banho' na galera. Mas também é meio impossível manter-se sóbrio... a cerveja vem de todos os lados..se você não bebe cerveja, banha com cerveja. Os sanduiches duram pouco tempo, mas dão algumas horas de sobre vida ao estômago.
Eu de fato nunca imaginei que a bandeira brasileira chamaria tanta atenção de uma forma positiva. Digo isto por que durante todo o trajeto, enquanto estava enrolado com a bandeira tupiniquim, chegaram várias e várias pessoas gritando 'Brasil' ou pedindo pra tirar foto. E não foram só brasileiros..foram também italianos, espanhóis, ucranianos, e até portugueses! Pena que as fotos foram tiradas das câmeras dessas pessoas que eu sequer lembro do rosto. 
Após o cortejo, que foi no domingo, tive aí dois dias de folga da queima (já tinha aproveitado quinta,sexta, sábado e domingo). Assim fiquei a segunda e a terça descansando. Na quarta a noite voltamos novamente ao Recinto e não foi surpresa nenhuma ver aquilo entupido de gente - mais uma vez. Essa foi a minha despedida da Queima, que durou até o sábado, mas que eu não tive condições físicas e nem financeiras de suportar.



quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Queima das Fitas

Começa amanhã, à meia-noite do dia 07 de Maio de 2010, a tão aguardada Festa da Queima das Fitas em Coimbra. É uma das festas académicas mais famosas e tradicionais do mundo - se não a maior. Mas então, o que raios é esta Queima das Fitas? Trata-se de uma espécie de celebração da formatura dos estudantes de Coimbra.  O nome vêm da cerimônia da queima das Fitas que os alunos usam coladas as suas pastas. As fitas têm um sinonimo que causa bastante polémica: grelos. Assim, há sempre a velha piada: quando vais queimar os grelos? hehehe A Queima inicia-se com uma Serenata no pátio da Sé Velha, na meia-noite da Quinta para Sexta. Conforme pode ser visto no vídeo, é um momento de muita emoção, pois trata-se da despedida da vida universitária em Coimbra.

A partir da sexta-feira, durante uma semana, numa estrutura - denominada de Recinto- montada próxima a Ponte de Santa Clara ocorrem diariamente vários shows de artistas nacionais e internacionais. Esse ano os destaques internacionais são o rapper Shaggy e a brasileira Daniela Mercury.

No domingo há sempre o auge da festa: o cortejo! Todos os cursos constroem carros alegóricos e saem desfilando pela cidade, desde o Pátio da Universidade, distribuindo bebida e comida de graça para toda a gente. Dizem os portugueses que esse é o dia que mais se consome cerveja em toda a europa, superando inclusive o Oktoberfest na Alemanha.
Para os sobreviventes, que aguentam todo o trajeto do cortejo, e mais os shows no Recinto, na segunda-feira pela manhã há a Garraiada: Os resistentes da noite dirigem-se para a Figueira da Foz  (50km de Coimbra) de comboio, e numa primeira parte do evento os fitados passeiam-se pela arena agitando orgulhosamente as suas fitas, segue-se uma Tourada, culminando na dita Garraiada, um confronto entre o homem e o animal.
Desde o começo de abril a cidade já não fala de outra coisa!  Surgem vários outdoors, começam vários eventos pré-queima, e toda a gente já se põe ansiosa. Na semana da queima os professores evitam marcar aulas, pois sabem que não adianta tentar, os alunos não vão comparecer. Sendo assim, tive hoje, quarta-feira, a ultima aula da semana. Só terei aula novamente na quarta-feira.
Não dá pra esconder a ansiedade por esse evento. Desde que cheguei aqui todos sempre diziam: esperas a queima e vais ver a loucura que isso é. Pois. Chegou a hora!Começou o Queima das fitas SPIRIT :D






domingo, 2 de maio de 2010

Semântico

Sou como eu sou:
Provérbio do meu futuro e da minha liberdade
Sou como eu sou:
Advérbio de lugar e de intensidade.
Sou um peito que chora de saudade

Já fui o que não era
Um dia serei o que não fui
Minha mente sempre aberta
quer um ser que evolui

Sou como eu sou:
Poema de minha própria alma
Que escreve rimas tortas e
Recita versos pelo caminho.
Assim as estrofes se constroem
E me mostram que não estou sozinho




p.s: Esse poema - se é que assim se pode chamar - é fruto de devaneios entre aulas e madrugadas Conimbricenses e tem uma certa inspiração no poema Cogito, do piauiense Torquato Neto