Estádio do Dragão

Dia 30 de setembro de 2009, Porto, Portugal. Em meio àquelas milhares de pessoas vindas de todo o mundo, havia um homem (que apesar dos 23 anos que tinha, estava a agir e a sorrir como um garoto que acabara de ganhar um vídeo game novo) em especial, que subia as escadas do belíssimo e iluminado Estádio do Dragão, rumo a porta 4, sector 5, fila 44, cadeira 26. Ao fundo, os gritos dos torcedores já presentes, bem como a música de abertura oficial da UEFA Champions League. O garoto olhava para os lados, extasiado. Parecia descrente, parecia não acreditar que estava ali. Estava sempre a achar que ia acordar no minuto posterior. Mas não estava dormindo, embora estivesse sonhando.

A bola rolou pontualmente às 19:45, e o Estádio inteiro gritava apoiando o Futebol Clube do Porto. O jogo não seria fácil, afinal se tratava da UEFA Champions League, e o time adversário contava com ninguém menos que Kun Aguero e Diego Forlán. O garoto filmava o estádio, os jogadores, e tirava fotos como se quisesse provar pra si mesmo que estava ali.

Apesar do apoio da torcida, o Atlético de Madrid trazia mais perigo. Principalmente quando Kun Aguero conduzia o balão. Um ingrediente que apimentava o jogo era a presença do português Simão Sabrosa como capitão do Atlético. Simão é rival antigo do Porto. Atuou durante 4 anos pelo Sporting e 6 pelo Benfica. Os dois maiores rivais do F.C. Porto. Sempre que pegava na bola a torcida carinhosamente entoava a seguinte canção: “Simão!Chupa!Tu és um filho da puta”. Claramente o garoto acompanhava o coro, até por que dos vários hinos entoados pela torcida, este era o único que ele conseguira entender.

Findou-se o primeiro tempo e nada de gols. A todo momento ele se perguntava se o jogo acabaria em 0 x 0. Temia um empate sem gols, mas logo lembrava que não importava o placar, posto que estes já tinham sido os melhores 40 euros que tinha gasto desde que chegara à Portugal.

Embora estivesse cheio, havia algumas cadeiras vagas no Estádio do Dragão. O personagem, durante o intervalo, havia descido para perto da lateral do campo com o propósito de tirar mais fotos. Chegando ali, viu os lugares sobrando. De lá não saiu mais. Bendita idéia. Foi ali que assistiu de camarote, a não mais que 15m de distancia, o aquecimento de Maxi Rodriguez e Reyes. Foi exatamente ali à sua frente, a não mais que 30m, que viu Falcão Garcia, aos 75 minutos de jogo, abrir o placar num gol (E QUE GOL!) de letra, depois de jogada do brasileiro Hulk. A essas alturas a voz já não lhe saía, por conta dos gritos e da fumaça dos milhões de cigarros acendidos à sua volta. Mas não importava. Nem a fumaça dos cigarros e nem o espanhol inconveniente ao seu lado (que torcia fielmente pelo Atlético) o incomodavam.

Desde o início da partida filmou todos os escanteios cobrados. Parecia que estava adivinhando que Rolando aproveitaria o rebote de uma cabeçada na trave, aos 82 min, e empurraria para o gol: 2 x 0. Filmou tudo e exibia o vídeo como se fosse um troféu.

Daí em diante, só festa. A torcida estava enlouquecida, não parava de gritar. Falcão Garcia foi aplaudido de pé pelo Estádio inteiro quando foi substituido. Simão Sabrosa foi vaiado de pé pelo Estádio inteiro quando foi substituido. E pra fechar com chave de ouro, o grito de “olé”.

Quando saiu de Coimbra naquela tarde, rumo à cidade do Porto,o garoto não imaginou que tudo seria tão perfeito: estádio cheio, jogo difícil, gol de letra e grito de olé. 40 euros? Pagaria 80, faria do almoço de 2,15 sua única refeição durante meses pra ver tudo de novo.

O garoto ainda não parou de sonhar. Dia 25 de novembro estará lá novamente pra mais um desafio: Porto x Chelsea.